Contratado em março, novo estilista Hedi Slimane quer fazer mudanças definitivas na grife que Yves Saint Laurent criou há 50 anos
Hedi Slimane
Surpresa no mundo da moda. Há alguns dias, surgiu um rumor que acaba de ser confirmado. A grife Yves Saint Laurent, criada pelo estilista argeliano em 1962, passará, em 2013, a se chamar “Saint Laurent Paris”.
A mudança faz parte dos planos do novo estilista Hedi Slimane (que substituiu Stefano Pilati, em março), de modernizar a grife cinquentenária. A ideia é trazer de volta a “jovialidade, liberdade e modernidade” da linha “Saint Laurent Rive Gauche”, criada por Yves Saint Laurent em 1994.
O “WWD” informou que o novo nome e logotipo serão implementados na coleção de primavera 2013, que será desfilada em outubroem Paris. Coma mudança, a sigla da marca deixará de ser a icônica “YSL”, para se tornar “SLP”. Apenas as linhas de maquiagem, sapatos e bolsas manterão a sigla de seu fundador.
O jornal aponta ainda, que a manobra é arriscada, já que Yves Saint Laurent, falecido em 2008, deixou muito fãs que poderão estranhar uma mudança tão significativa. Pierre Berger, o sócio e companheiro de Yves Saint Laurent ainda não se pronunciou sobre a mudança, mas comentou, em março, que daria a Hedi Slimane “total liberdade de criação da imagem da grife e de suas coleções”.
Grace Coddington, da "Vogue", comentou em sua página no Facebook,sobre outra mudança significativa: a grife parisiense se mudará para Los Angeles, onde ficará o atelier de Hedi Slimane.
Sem dúvida, a década que termina agora ficará marcada pela perda de um dos maiores e mais importantes ícones da moda mundial. Conhecido por inovar e recriar o universo feminino, Yves Saint Laurent vestiu grandes damas da indústria e do cinema, como Diane von Furstenberg e Catherine Deneuve, só para citar dois nomes de uma longa lista. "Ele desafiou as regras da moda inventando novamente a elegância francesa. Seu falecimento deixa um enorme vazio e também uma herança sublime", divulgou o grupo Gucci, que detém os direitos de sua marca, na época da sua morte, em junho de 2008, aos 71 anos.
“Coco Chanel trouxe às mulheres a liberdade; Saint Laurent lhes deu o poder”, disse Pierre Bergé, sócio e companheiro de uma vida, em entrevista à rádio France Info. Tímido e recluso, Saint Laurent enfrentava desde 2002 problemas respiratórios e o vício do álcool. Faleceu vítima de um câncer no cérebro ao qual vinha lutando desde 2007. Seu corpo foi cremado e as cinzas colocadas em uma sepultura nos jardins Majorelle, um jardim botânico que ele visitava com frequência no Marrocos, uma espécie de refúgio vizinho à residência que ele e o companheiro compraram em 1980.
Trajetória
Nascido no dia 1º de agosto de 1936 em Oran, Argélia, o estilista já mostrava seu interesse por moda aos 12 anos de idade, quando começou a reproduzir os modelos que via nas revistas de sua mãe. Aos 17, conhecia a glória no mundo da moda: depois de ganhar o primeiro prêmio de um concurso de desenho, deixou a casa dos pais para trabalhar ao lado de Christian Dior em Paris. Com a morte repentina de seu mestre, em 1957, assumiu o posto de diretor criativo da maison com o desafio de salvar a marca de problemas financeiros. Logo, sua maneira revolucionária se tornou notável aos olhos da imprensa mundial.
A primeira coleção, “Trapézio”, foi apresentada quando tinha apenas 21 anos, rendendo ótimas críticas. Mas o sucesso frente a grife não duraria. Em setembro de 1960, Saint Laurent foi recrutado para servir no exército francês durante a Guerra de Independência da Argélia, porém não durou mais de 20 dias no quartel. A pressão psicológica e os trotes sofridos pelos companheiros soldados levaram-no a uma internação em um hospital psiquiátrico que o submeteu a um pesado tratamento com doses de sedativos e eletrochoque. Ainda no hospital, recebeu a notícia de que tinha sido despedido da Dior. Após o término do tratamento, o estilista processou a grife por quebra de contrato, ganhando uma indenização em novembro de 1960.
Em 1961, fundou sua própria maison, financiada por Bergé. A partir daí, Saint Laurent ajudou a redefinir os conceitos de moda feminina no mundo e foi um dos responsáveis por tornar Paris a capital da moda. Com sofisticação e extremo bom gosto, lança em 1965 sua famosa coleção “Mondrian”, adaptando o princípio dos quadros abstratos do pintor a vestidos de linha reta de jérsei. Mas, sua criação de maior sucesso foi sem dúvida o smoking para mulheres, apresentado pela primeira vez em 1966.
O “Le Smoking”, como era chamado, iniciou uma mudança nos modos de vestir femininos. “Meu pequeno trabalho como estilista é fazer roupas que reflitam a nossa época. E estou convencido de que as mulheres querem usar calça”, disse o estilista. Aliás, quando se trata de pioneirismo, Saint Laurent se destaca em vários aspectos. Ele foi o primeiro a popularizar o prêt-à-porter (nascente processo de fabricação de roupas “prontas para vestir”, que parecia ser uma ameaça à tradicional alta-costura parisiense). Foi também o primeiro estilista vivo a ganhar uma exposição no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, em 1983. Foi o primeiro a colocar modelos negras na passarela e o primeiro costureiro parisiense a atravessar o Sena para abrir uma butique de prêt-à-porter de luxo, a Saint Laurent Rive Gauche, em Saint-Germain-des-Près, em 1966.
Já nos anos 2000, criou uma fundação com Bergé em Paris, para traçar a história da casa YSL, com 15 mil objetos e 5 mil peças de roupas. Em 2002, Yves se despediu das passarelas apresentando no Centro Georges Pompidou, em Paris, um desfile retrospectivo de seus 40 anos de criação. Nesse período, ele produziu mais de setenta coleções de alta-costura, além de licenciar diversos produtos com seu nome, como perfumes, sapatos, peles e cosméticos. Amante das artes, o casal tinha uma rara coleção com 733 obras, que iam desde Picasso a antigas esculturas egípcias. Em fevereiro de 2009 as peças foram a leilão, em uma decisão tomada por Bergé após a morte do companheiro. "Sem ele, a coleção perdeu todo o seu significado", explicou.
Este ano, a conturbada relação de amor entre Saint Laurent e Bergé (que apesar de ter chegado ao fim na década de 70, continuou do ponto de vista profissional até o falecimento do estilista), ganhou um documentário. “O louco amor de Yves Saint Laurent”, de Pierre Thoretton, conta a trajetória do criador e como a relação de ambos durou tantos anos mesmo com todas as dificuldades e com personalidade depressiva dele. Como diz a escritora François Baudot em “A Moda do Século”, Saint Laurent foi “o último de um mundo e, unanimemente reconhecido como o primeiro de outro, se colocando como verdadeiro elo de ligação entre a moda de ontem e a de hoje". Já deixa saudade!
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